terça-feira, 13 de novembro de 2012

"que é pra ver se dá coragem,pra seguir viagem "- Paraty

" Viver é outra coisa... "sussurrava a vitrola velha, no fundo das lembranças.
Proponha-me uma troca: deixe-me vasculhar suas memórias e deixo voltar ao passado. Mas com incertezas certo? sem garantias que vai acontecer tudo igual.
Ela se lembrou das flores vermelhas do vestido, do mar quebrando nas pedras, e da maneira como virava a garrafa de whisky sem gestos fortes, mortos por ansiedade ininterrupta . E a vida, parava-lhe no peito, paralisada.
Escolheu a praia de pedra para reconfortar-se com a solidão.  De olhos fechados, até perceber que estava mais viva do que morta. E assim se passaram os dias, quase todos sem ela. Porque o fim não tem tempo, quando ja está tudo acabado. Não tem pressa nem significado. Poderíamos rir, concluir, conversar. Mas o fim não tem carater, só o entendemos quando já é tarde. Saudades muitas, tarde para voltar atrás, a vida é mesmo assim. Esquecem-se  de nos  dizer que é sempre é sempre uma surpresa de mau gosto, que depois se transforma em pura dor.  Porém era uma violencia doce, que apenas deixava cicatrizes, não perfurava a pele.
Quando eu erro, sofro. E odeio sofrer. Ela não.
" Como é possível perder tempo com esse tipo de coisa? " Gritava a vitrolinha.
Olhos tortos, e alma aberta, como nunca vi.  Tristeza mútua.
Houve algo nas lembranças, mudança repentina. De repente se levantou do chão de pedras, e tomou um barco qualquer, que a afastava cada vez mais da costa.